Passeando pela rua me deparei com um daqueles músicos multi instrumentistas. O garoto era uma fera, tocava violão com as mãos, gaita com a boca, bateria com ambos os pés. O som era de Bob Dylan e entre um sopro e outro ele ainda cantava e quando passou uma mulher ele ainda se torceu inteiro para apreciá-la. Pensei, esse sujeito é a verdadeira caricatura deste início de século...
Linda Stone, criadora do grupo de computação social da Microsoft descreveu como “atenção parcial contínua” ( continuous partial attention) o comportamento cada vez mais comum de monitorar várias fontes de informação ao mesmo tempo. Pesquisadores afirmam que a tecnologia está modificando nossas mentes em híbridas, que atendem várias mídias concomitantes.
Quero crer que não há como fugir desta “tendência”, canais de televisão como bloomberg e até os infantis espalham várias informações em sua tela. Apesar de proibido, comumente vemos pessoas dirigindo, falando no celular e escutando música e alguns ainda fumando ao mesmo tempo.
O problema é que, como o próprio nome indica a atenção é somente parcial e decididamente serve apenas para algumas tarefas. Por exemplo, é frustrante dar uma aula e ver alunos com seus palms e nooteboks lhes distraindo. Ou então viajar centenas de quilômetros e participar de uma reunião onde todos estão presentes somente em corpo.
O mais incrível é que o tempo, ao invés de nos sobrar é escasso. É supostamente tudo em tempo real sem, no entanto, estar em tempo algum e ao mesmo tempo em vários horários. Somos escravos de nossas caixas de entrada e de saída e a sensação é de que tudo passa sem deixar marca alguma, apesar de estar tudo sendo gravado e arquivado.
A multimídia flutua em nossas cabeças que não se fixa numa única atividade pulando de pensamento a pensamento numa eterna inquietação e abstração. Estar conectado é bom e fundamental mas a constante dispersão nos torna superficiais.
Acabamos vivendo como se o propósito de nossas vidas fosse cumprir tarefas e muitas vezes deixamos a essência nos escapar. Aquilo que esta no detalhe, na sutileza, no silêncio, na contemplação. Não prestamos atenção em quem esta ao nosso lado e muito menos em nós mesmos... Haja yoga para baixar a bola dessa rapaziada...